domingo, 17 de outubro de 2010

A porta da noite

No seu cadenciado andar, abriu a porta da noite e deslizou nas sombras que a acolheram, o frio do relento abraçou a própria alma, dirigiu-se ao local de sempre, quando sentia que precisava desabafar a sua fúria de existir, tão simplesmente na monotonia diária de uma vida frustrante.

As luzes coloridas do local irradiavam luxúria e volúpia e era disso que necessitava, cobrir a sua pele de esquecimento

O fumo do cigarro sufocava-a, os olhos lacrimejavam desabridos, mas não se afastou, o seu propósito mantinha-se firme na sua furibunda mente.

Aquela maldita fúria lasciva, que sentia como uma garra dilacerando-lhe o peito sinuoso, precisava desaparecer

Percorreu a sala lentamente, como se quisesse absorver os fantasmas que pairavam naqueles minúsculos cérebros desafinados da própria essência. Ela queria ser nessa noite como eles onde a fanfarronice e a embriagues pernoitavam junto aos seus corpos faustos

As mãos firmes de unhas esmeradamente tratadas, tacteavam o frio mármore, como se esbofeteasse a sua própria face num delírio raivoso de se sentir, na essência da sua própria insanidade

Sentou-se, apoiou lentamente os cotovelos, deixando visualizar o peito firme que sobressaia do decote vermelho da acetinada blusa. Pediu um shot e percorreu novamente a sala com o olhar vampiresco sequioso de sangue fresco, enquanto aguardava a ingestão do licor embriagante

Olhares felinos brilhavam nas sombras da pálida luz, sabia que alguém caminharia até si, na ânsia de rasgar a noite de voluptuosos líquidos. Bebeu lentamente o licor e permaneceu expectante, sentia o seu corpo transformar-se.... nessa noite, seria o que ela própria desconhecia, uma felina indomável feita de prazer.

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